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sábado, 17 de abril de 2010

Comentários de Textos de História da Cultura Afro-Brasileira.


SCHWARTZ, Stuart B. Segredos Internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Companhia das Letras. 1998
            O texto apresenta a distribuição demográfica da população negra escrava na Bahia, apontando que esse estudo ainda é de pouca documentação, o autor aborda que desde o fim gradual da escravidão indígena nas primeiras décadas do século XVII até a década de 1850 foi o cativo negro a mão de obra essencial nas terras do Brasil, assim para manter o regime econômico que se construía no Brasil, principalmente com a produção de cana-de-açúcar era necessário realizar uma constante importação de cativos as África, os escravos vindos para o Brasil no século XVI eram provenientes da região da Senegâmbia, denominada de Guiné, os traficantes por sua vez realizavam o comércio através das feitorias portuguesas em São Tomé e Cabo verde.
CARVALHO, Marcus J. M. de. De portas adentro e de portas afora: trabalho doméstico e escravidão no Recife, 1822-1850. Afro-Ásia, nº 29/30, 2003, 41-78.
            O artigo acima discute a presença doméstica em Recife nos anos de 1822 à 1850, momento em que historicamente o Nordeste está passando por Insurreições Liberais e a cidade do Recife crescia demograficamente e comercialmente, o autor apresenta a crítica ao conceito de patriarcalismo de Gilberto Freyre, assim remonta que na atualidade já se afirma que no período citado havia a presença da mulher frente a algumas atividades essencialmente masculina, a exemplo de negócios em que muitas atuaram diretamente, nesse contexto Carvalho, procura destacar que a mulher convive dentro de um sistema patriarcalista tenso, onde este sistema social poderia em alguns momentos voltar suas tensões aos homens, já que a estes era atribuída as regras de prover o sustento da família e nessas tensões é que muitas mulheres conseguiam se aproveitar e acabar aprendendo a gerenciar sua relação com os homens.
            O desenvolvimento urbano de Recife abria portas para empregos voltados a mão de obra pobre com algum tipo de qualificação, nesse cenário é que a população feminina livre e liberta encontrará trabalho doméstico nos sobrados da cidade, já visto que a população livre ostentava luxo e conforto, característica da camada fina e média da sociedade recifense.
FERREIRA, Jackson. Por hoje se acaba a lida: Suicídio escravo na Bahia, 1850-1888. Afro-Ásia nº 31, 2004, 197-234.
         O referido artigo trata das causas, distribuição, tentativas e efetivações suicidas na Bahia, logo no início o autor discute duas teorias sobre as causas, uma diz respeito a versão do médico e diretor do periódico Crepúsculo, Tiburtino Moreira Prates e a outra do professor em patologia, Aranha Dantas, da Faculdade de Medicina da Bahia, onde o primeiro atribuía como causa a saudade do cativo pelo seu lugar de nascimento, sua pátria, o segundo demonstrava que a falta de religiosidade da população gerava tais conseqüências, assim a teoria de ambos se complementam diante do cenário suicida na Bahia, a primeira reforça a segunda e vice-versa, essas mesmas teorias são utilizadas ainda na contemporaneidade por pesquisadores do assunto.
MOURA, Clovis. Os quilombos e a rebelião negra. São Paulo: brasiliense, 1981.
            A obra acima destaca o papel dos quilombos na construção da história social do Brasil, como esses ambientes eram organizados e a relevância que tiveram nos levantes a favor da abolição no país, o autor então enfatiza o quanto os escravos e seus mecanismos de reivindicação foram estereotipados por estudiosos, que não procuram ver a violência como uma categoria econômica, para reforçar esse pensamento a obra destaca que o escravo não era apenas “coisa”, mas antes de tudo era “ser”, ou seja, mesmo em sua condição subserviente ele não perdia a interioridade humana, e essa postura refletia nos movimentos de afirmação de sua condição humana, embora esses movimentos fossem revoltosos. Tais atitudes da população escrava no Brasil propõem apresentá-la não como agente passivo que apenas observava a história, mas elementos motivadores da sua própria história, o escravo, segundo o texto, se afirma como sujeito histórico coletivo.
MOTT, Luiz. Raízes Históricas da Homossexualidade no Atlântico Lusófono Negro. Afro-Ásia, nº 33, 2005, 9-33.
         No início do artigo, Mott apresenta o mito da inexistência homossexual na África, onde ele utiliza do pensamento do historiador inglês Edward Gibbon, em seu livro History of the Decline and Fall of the Roman Empire, onde este autor acredita não haver a prática homossexual no velho continente, mas o Santo Ofício em 1630, confirma a inexistência desse mito, pois em seus documentos destaca a prática sodomita do governador de cabo verde, Cristovão Cabral, além de outros casos praticado pelo cônego Gabriel Dias Ferreira, acusado de ter mantido cópulas com 82 jovens desta ilha africana. O estudo deste gênero em África é limitado e foi construído um tabu sobre esse aspecto no continente, embora em outro momento o autor desse artigo apresente o primeiro caso documentado de um africano praticante de homossexualidade em Lisboa, um travesti com o nome de Antonio, mas que usava o pseudônimo de Vitoria, preso pela Inquisição portuguesa em 1556.
GOMES, Flávio. Negros e política (1888-1937). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
            O livro em questão trava a discussão a respeito da mobilização negra no período pós-abolição, para isso o texto mergulha em alguns episódios ocorridos depois da emancipação negra no Brasil, como os acontecimentos em torno da Guarda Negra (1888), da Frente Negra Brasileira (1931), e da Legião Negra (1932), movimentos que procuravam abrir debates sobre a questão racial nas primeiras décadas da república. A sociedade pós 1888, ainda discutia as conseqüências do movimento abolicionista, era comum ver a insatisfação de alguns fazendeiros ou parte da antiga nobreza do segundo reinado.
            A Guarda Negra provocou episódios de resistência á proclamação da república, fato exemplificado em São Luis onde o historiador João Lima, aponta que um grupo de negros reagiu ao movimento republicano, os movimentos da Guarda Negra, criada pela Confederação abolicionista em homenagem a Princesa Isabel, buscava manter o poder do Império.
NICOLAU, Luís. O triângulo das tobosi: Uma figura ritual no Benim, Maranhão e Bahia. Áfro-Ásia, nº 25-26, 2001, 177-213.
         Nicolau procura com esse artigo fazer um trabalho etnográfico que a partir de uma figura ritual, tobosi, encontre a relação entre as características religiosas dos três extremos: Benim, Maranhão e Bahia, assim o artigo condena a exotização da religião afro empreendida no Brasil, onde muitos estudiosos procuram ver os africanismos ou sobrevivências culturais africanas nas matrizes afro-religiosas do Brasil.
            O texto salienta que parte da variação religiosa existente no Brasil ocorreu pela transferência transatlântica, o que pode ser visto no próprio tronco Jeje, onde a heterogeneidade de práticas religiosas era comum. Em síntese o trabalho de Nicolau procura fazer comparações entre conceitos e práticas religiosas da atual república do Benim e do Brasil.
SOUZA, Florentina. LIMA, Maria Nazaré. eds. Literatura afro-brasileira. Salvador: Ceao; Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006.
         O texto apresentado discute em primeiro momento o surgimento das expressões literatura negra ou literatura afro-brasileira, portanto esse tipo de discussão está baseado em movimentos da literatura que sugiram nos Estados Unidos e no Caribe e relacionava essa literatura aquela relativa à identidade e às culturas dos povos africanos, assim a literatura é utilizada para expressar um novo modo de se conceber o mundo, já os escritores do Brasil atribuem as designações literárias acima como excludentes pois limitam o campo literário a uma particularidade, o que coloca a produção negra em âmbito restrito. Embora alguns teóricos do Brasil defendam a manutenção da expressão literatura negra não podem negar como o termo literatura afro-brasileira se mantém popular a exemplo de antologias surgidas a partir da década de 80, como Cadernos Negros, Antologia contemporânea da poesia negra brasileira e Poesia negra brasileira, essas publicações fizeram destacar a produção de autores como Miriam Alves, Solano Trindade, Oliveira Silveira, Abdias do Nascimento entre outros.
CASTRO, Yeda Pessoa de. A influência das línguas africanas no português brasileira. Secretaria de Educação, Cultura, Esporte e Lazer de Salvador, Bahia. Disponívelem: acessado em; 07 set. 2009.
         O referido artigo indica as principais influências das línguas africanas no português do Brasil, assim tudo iniciou com a importação da mão de obra negra para o país desde o século XVI, essencialmente a herança lingüística veio da região banta e da região sudanesa, e entre as famílias de que influenciaram destaca-se as da família Kuá, Yorubá e Jeje, entre as palavras que foram introduzidas no português, o texto cita a palavra caçula, expressões surgidas do convívio social da mãe negra na casa grande, onde estas utilizavam de expressões de afeto, tipicamente africanas na criação das crianças, são exemplos os contos populares, contos de niná.
            O português brasileiro é considerado substrato das línguas africana, pensando nisso se observa que ao redor de Salvador a influência banta – congo-angola predominou e fez criar termos utilizados na língua materna do Brasil, tanto no caráter artístico como na gastronomia.
FELIPE, Delton Aparecido et alli. Nota sobre as políticas em prol do ensino da história e cultura afro-brasileira e africana na educação escolar. Campinas: Anais do VIII Seminário Nacional de Estudos e Pesquisas, 2009.
            Felipe identifica em sua obra a atuação do movimento negro na tentativa de incorporar ao ensino de história os conhecimentos a respeito da cultura afro-brasileira e africana na educação escolar do Brasil, o autor define que 94% dos indivíduos nas escolas tem preconceito racial, fato ocorrido pelo ideal construído  de branqueamento da população com a vinda de emigrantes, além da exclusão de analfabetos ao direito ao voto, sendo estes de maioria negra, fato ocorrido no pós-abolição, essas ocasiões geraram a ausência do negro nos livros-didáticos, os alunos então ficaram sem referencial dos povos africanos no Brasil, nesse sentido o Movimento Negro Unificado propôs a reformulação curricular escolar e a monitoração dos livros didáticos. Para reverter o esquecimento da temática negra no currículo escolar, é formulada as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura afro-brasileira e africana, a diretriz foi fixada em forma de legislação, presente, portanto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

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